Como fazer unhas para Guitarra Portuguesa – Parte 3

Agora sim, vamos finalmente meter mãos à obra!

Como fazer a unha?

Após teres o material a usar e decidires o formato, o melhor é copiares as unhas de alguém ou uma forma que encontres na internet ou num livro. Tens de ir experimentando com formatos, lembra-te que o tamanho das mãos obviamente influencia o tamanho das unhas. O mais importante é o lado que vai tocar nas cordas (entre o indicador e o médio e entre o polegar e fora da mão) e a parte da frente. 

Copia o formato para o material com uma caneta de acetato ou similar. Recomendo que primeiro faças o furo para pores o dedo, para o caso deste ficar fora de sítio ajustares a unha. Lembra-te que a distância entre o furo e a parte que ataca a corda é importante, se cortas a unha primeiro e depois fazes o furo fora de sítio podes ter de fazer tudo de novo!

Podes fazer o furo de variadas maneiras: já o vi ser feito com uma navalha (mas não o sei fazer assim nem recomendo). Já o fiz com tubos de metal ( “vazadores”, procurem em lojas de ferragens) sendo que tinha um tubo para cada dedo. Aquecia o tubo no fogão e derretia um furo no plástico (como podem ver aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ayg5ZnKzfr0). No entanto deixei de o fazer porque além de não ser muito prático a precisão do furo era muito reduzida.

Agora uso um esmeril (dremel) para furar o plástico. Cuidado ao comprarem, há uns a 200€ e uns a 20€, estes últimos fazem o trabalho perfeitamente! Apesar de muito mais preciso que o método dos tubos de metal, faz alguma porcaria ao furar o plástico e também não é a coisa mais prática do mundo pelo que estou à procura de outras soluções.

O Ricardo Silva, grande guitarrista e uma pessoa que admiro muito, usa neste momento um furador de plástico, parecido com os de papel. Faz um furo mais largo e fura materiais mais grossos. Não funciona com o material que eu  uso, mas para o comum plástico ou palhetas é boa solução, muito mais rápido e prático.

Após o furo, corta o plástico com uma tesoura bem afiada. De seguida usa uma lima das unhas (aquelas tipo banana são preferíveis) para acertar o formato. Para finalizar é importante polir bem a unha toda, tanto por dentro do furo, para não te magoar, como por fora, para a unha gastar menos e durar mais. Usa uma lixa de água, fina, para este efeito, à volta de 1000-1200 serve perfeitamente.

Para terminar, caso o queiras fazer, vamos dar a curvatura à unha. Para isto podes usar um isqueiro, mas cuidado, uma vez queimei uma unha ao fazer isto. Simplesmente aquece a unha com o isqueiro e vai dando a curvatura para melhor assentar no teu dedo. No entanto este método leva a unhas com um formato mais em “V” do que curvo, pelo que o que recomendo é adquirires um encaracolador de cabelos, fino. É na prática um ferro, da largura do teu dedo, que vai aquecer quando ligas à corrente, permitindo encaixar a unha já feita lá e dar-lhe uma curvatura perfeita. 

Pensamentos Finais

Se não se derem imediatamente bem com um formato de unha, não desistam imediatamente. Eu tive mais de um mês para me habituar (e conseguir tocar) com o formato de unha que uso atualmente, e já tocava Guitarra Portuguesa há anos! No entanto compensou e hoje é o formato que recomendo. Se um formato não estiver a funcionar, talvez o problema não seja a unha mas sim a vossa técnica.

É importante lembrar que, ao contrário do Violino ou do Piano, que são instrumentos com muita história e reportório e que foram estudados exaustivamente ao longo de séculos, a Guitarra Portuguesa como a conhecemos hoje é um instrumento relativamente recente e pouco estudado. Além de sermos maioritariamente nós, portugueses, a tocá-la, ao invés de instrumentos clássicos que foram tocados e estudados por todo o mundo, é usada sobretudo de forma popular e ensinada com o método “boca-a-boca”, que não tem nada de errado mas não leva a grandes conclusões nem estudo.

Só mais recentemente começa a haver um interesse pelo instrumento a nível académico e erudito, desenvolvido especialmente pelo Custódio Castelo, Paulo Soares e claro pelo Pedro Caldeira Cabral. Isto leva a que ainda estejamos em fase de experimentação do instrumento, e quer a nível de técnica quer a nível de unhas as doutrinas e opiniões são muitas e divergentes, sendo que se reconhece especialmente as escolas dos Mestres guitarristas e professores já mencionados. 

Como tal, o melhor conselho que posso dar é que procurem e experimentem o máximo que conseguirem, para encontrarem de momento o que é melhor para vocês e para, quem sabem, contribuírem para a evolução e estudo deste instrumento.